Em julho, o Clube do Vinil entrega uma verdadeira relíquia: Os Tincoãs (1973), uma das obras mais revolucionárias da música brasileira. Raro, ancestral e profundamente original, o disco marca a virada do grupo baiano Os Tincoãs — vindo de Cachoeira, no Recôncavo — para um repertório que une cantos do candomblé, sambas de roda e harmonias vocais de tirar o fôlego.
Produzido por Adelzon Alves e dirigido musicalmente por Lindolfo Gaya, o álbum estreia uma sonoridade inédita à época — descrita por alguns como “a bossa nova do candomblé”. Canções como Deixa a gira girá, Saudação aos Orixás e Canto pra Iemanjá misturam espiritualidade, lirismo e inovação formal. Já A força da Jurema resume o manifesto musical do grupo: um grito de pertencimento e reverência aos seus ancestrais.
Admirado por Gilberto Gil, pelo maestro Koellreuter e até por um príncipe iorubá, o som dos Tincoãs desafia o tempo. Suas vozes ecoam como se saíssem das igrejas, dos terreiros e das praças do Recôncavo — uma celebração viva da cultura afro-barroca brasileira.