Informações sobre o disco

Deixa eu dizer”, o desabafo musical da grande cantora Claudya

 Filha de um motorista de ônibus e uma dona de casa, Maria das Graças, mudou-se para a cidade de Juiz de Fora, em Minas Gerais, onde estreou, aos nove anos, num programa de calouros da Rádio Sociedade. Com 13, já era crooner do conjunto Meia Noite, que circulava pelos bailes da região. Desembarcou em São Paulo em plena bossa nova, em meados dos anos 60. Fez um teste na TV Record e foi contratada. Era escalada para diversos programas da emissora, mas, principalmente, “O fino da bossa”, comandado por Elis Regina e Jair Rodrigues.

           E foi aí que o bicho pegou. “Eu era muito garota, ia gravar levada por meu pai”, contou em comovente entrevista ao site “MPB com tudo dentro”, do historiador Rodrigo Faour. Ronaldo Bôscoli, que produziria seu show, “Claudia não se aprende na escola” (a partir de um sambalanço de Haroldo Barbosa que ela tinha gravado), com Miele e o Quinteto de Roberto Menescal, convenceu-a de que ela era melhor que a estrela máxima da época, com quem ele vivia às turras, e depois acabaria se casando. “Você canta muito mais”, bancou o sarcástico, produtor, e letrista, que propôs o título “Quem tem medo de Elis Regina?”. Claudya diz ter recusado a proposta de imediato, mas a eriçada rival gaúcha ficou sabendo, e a apresentou no “Fino da Bossa” como a pessoa a quem deu oportunidade no programa, e agora articulava essa afronta. “Foram cinco minutos de vaias, mesmo eu negando”, lembrou Claudya, que acabou prejudicada pelo imbróglio.

              Além da faixa título icônica, o álbum “Deixa eu dizer” tem outras pepitas faiscantes na voz acrobática da cantora. Como o samba canção divergente “Você não sabe amar” (“nunca viveu, nunca sofreu/ e quer saber mais que eu”), de Dorival Caymmi (com Carlos Guinle e Hugo Lima), que Chico Buarque só projetaria no ano seguinte, em seu desafiador disco “Sinal fechado”. Já a cortante “Esse cara”, de Caetano, veio ao mundo no Lp do ano anterior de sua irmã, Maria Bethânia, “Drama- anjo exterminado”. Claudya não se intimidou com a possível comparação e fez uma interpretação mais cálida desse cara, “com seus olhinhos infantis/ como os olhos de um bandido”. Também no ano seguinte em que Alaíde Costa ressignificou “Me deixa em paz”, de Monsueto Menezes, no “Clube da Esquina” com Milton Nascimento, Claudya repescou no baú do mesmo autor (com Tuffic e Marcleo) outro clássico das revanches folionas, “A fonte secou” (“Só na hora da sede/ é que procuras por mim”), de 1953.


Tracklist

Lado A

  1. Noite de Verão
  2. Esse Cara
  3. A Fonte Secou
  4. O Circo
  5. Você Não Sabe Amar
  6. Agora Quem Ri Sou Eu 

Lado B

  1. Só que Deram Zero Pro Bedeu
  2. Deixa eu Dizer
  3. Chega de Saudade
  4.  Apartamento na Cidade
  5.  Bela
  6. Pois é, Seu Zé

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